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Avatar

December 30, 2009

A primeira impressão de quando ouvi falar do filme do Avatar era que seria divertido porque o desenho animado é. Mas depois fui ver que uma coisa não tinha nada a ver com a outra, o que me deixou desinteressado. Aí descobri que o diretor era o James Cameron, o cara que teve a manha de gastar 200 milhões de pilas americanas para fazer “Titanic” que aliás eu curto. Pensei: ou vai ser um Titanic ou um Waterworld.

Sim, pessoas. Estima-se que o cara gastou a quantia exorbitante de 500 milhões de pilas já contando a divulgação.

Acabei de voltar do cinema e o que posso dizer é que James Cameron perdeu a chance de fazer um filme muito bacanudo.

E não é nem pelas pirotecnias dos computadores. É que ele elencou um monte de assuntos interessantes para ficar disperso em uma história até meio previsível.  Como li no RT da @giannetti: “pocahontas + LSD”.

Começo então pelas pirotecnias. Desde a abertura inicial do terceiro Guerra nas Estrelas: a vigança dos Siths, convenci-me que o CGI só voltaria a me impressionar quando puder captar as sutilezas de uma interpretação de ator. Aliás, talvez seja isso que seja o próximo passo da galera dos efeitos especiais: trabalhar intimamente com os atores.

Admito que Avatar tentou captar essa sutileza, mas foi pelo viés da máquina. A impressão que tenho é que os programadores/modelares/animadores tentaram tanto parecer real que não se permitiram, como um ator, estudar e criar este vocabulário corporal e principalmente facial.

Outra questão que senti falta de se explorar mais na história é a do próprio título: o avatar. Há um momento em que o personagem se questiona quem é. Em “Matrix”, os avatares, ou a representação do ser em outro espaço, são projeções do que as pessoas gostariam de parecer(no caso, a última imagem residual) . Em Avatar, a questão é a adaptação de uma mente e sua complexidade dentro de um corpo com outra complexidade. A passagem de tempo é tão rápida que só sabemos que o personagem se adaptou.

A questão da representação é das mais importantes hoje em dia. Não é só o que somos, mas como nos percebemos. Nos estudos de cinema (arte ainda tão moderna, vejam só) há uma relação diferenciada entre indíce e ícone: o primeiro é algo que se relaciona com o representado através de uma experiência em empírica, em figura de linguagem, é próximo da metomínia. O ícone, por sua vez, é a construção sensorial que mantém proximidade do representado.

Os avatares como conhecemos possui uma dinâmica além destes dois dispositivos. Eles convivem conosco e mantém um diálogo que ora pode ser de indíce (quando o avatar é uma imagem que tem a ver mais com a circunstância que nos é próxima) ou ícone (quando é próximo a nossa identidade física).


comercial da Coca-Cola bacana sobre Avatares

Acho que aí já tem assunto para muita história.

Um outro tópico tem a ver com a questão do “bom selvagem” de Rousseau, os estudos de Levi-Strauss e a questão mítica. Tudo bem que podemos encarar o filme como uma grande fábula, mas Avatar peca em um ponto em que outros épicos acertam: a mitologia.

A construção mitológica de Star Wars, Senhor dos Anéis e até Harry Potter além de bastante detalhada possui lógicas internas que são reveladas aos poucos e elas mesmas possuem contradições. O que Avatar tentou fazer foi criar um mundo mítico em perfeita sintonia com a Natureza e para isso deveria se basear na cultura que mais se aproxima deste ideal harmônico:  o oriente.

O que vemos em Avatar é o olhar ocidental de Rousseau do “bom selvagem”. Talvez se tivesse ido mais para o lado de Levi-Strauss e tivesse criado certa sutileza e camadas simbólicas a ponto de abrir para interpretações variadas, talvez o povo Na´vi não fosse tão chato. A impressão que dá é que eles vivem uma cultural imutável e sem ruídos.

A última questão que me incomodou bastante tem a ver com uma discussão política. Eu vejo a política como a grande questão da auteridade, do pensar o outro. No caso do filme, a equipe de cientistas são como embaixadores; mediadores entre os povos. Ali há uma troca de cultura que em um primeiro momento é intrigante. Aprende-se a língua local, ensina-se a língua terraquea. Este jogo vai ficando falido pela ganância de quem gere o projeto.

Para mim, isto seria o filme: como esta relação começou a ficar conturbada e quando a idéia de Avatar surgiu para tentar melhorar. Quais foram as implicações para cada uma das culturas? Afinal, estar em um corpo que não é seu não é das coisas mais simples.

Para nós que assistimos fica somente que o verbo “ver” tem um significado maior que o usual. Ora, sabemos que culturas tem palavras próprias que são muito difíceis de traduzir como a nossa “saudade”. Não seria divertido se o filme tivésse um toque de “Lost in Translation”?

Mas um ponto bom é que o filme flui bem. Não me cansei nas 3 horas (eu nem sabia que era tão longo) e no final saí com a sensação de “Sessão da Tarde”. Talvez a experiência em 3D ou Imax seja outra coisa, mas eu devo guardar o dinheiro para um próximo filme. Quem sabe “Airbender”, o Avatar?